31 de mai. de 2012

DEFICIÊNCIA INTELECTUAL: POR Dr. JAIME LIN


DEFICIÊNCIA INTELECTUAL: POR DR. JAIME LIN

Saiba Mais: A neuropediatria e a prevenção de acidentes
A deficiência intelectual não é uma doença. Antes de tudo é o resultado de um processo patológico, no cérebro, caracterizado por limitações nas funções intelectuais e adaptativas.
Frequentemente, o tema ainda é encarado como um tabu. Muitas pessoas ainda encaram a situação com vergonha, procurando falar pouco a respeito, tentando encontrar diagnósticos alternativos.
Assim como todos os temas previamente publicados, acredito que a informação e o esclarecimento são fundamentais. O conhecimento transforma, abre caminhos, liberta, acalma.

O QUE É A DEFICIÊNCIA MENTAL?

Por definição, a deficiência mental, de acordo com o Manual Diagnóstico Estatístico de transtornos mentais (DSM-IV), é um funcionamento intelectual geral abaixo da média resultando em, ou associado a, prejuízo concomitante no comportamento adaptativo e manifestado durante o período do desenvolvimento, antes do 18 anos de idade.
Esse funcionamento intelectual abaixo da média traduz-se por uma inteligência abaixo da média e o prejuízo no comportamento adaptativo se observa nas limitações nas mais diversas áreas: comunicação e cuidado pessoal, vida em casa e habilidades sociais, funcionamento na comunidade, saúde e segurança, lazer e trabalho.

A DEFICIÊNCIA MENTAL É COMUM?

Infelizmente, é extremamente comum. Estima-se que cerca de 1% da população tenha algum grau de deficiência mental. A incidência, no entanto, é extremamente difícil de calcular. Isso ocorre, principalmente pelo fato de que a deficiência mental é difícil de ser reconhecida, especialmente em crianças menores, leva-se tempo.
Aspectos cognitivos e intelectuais de crianças recém-nascidas ou pequenas são muito semelhantes independentemente de haver ou não um quadro de deficiência intelectual. À medida que a criança cresce, suas necessidades intelectuais vão aumentando, a sociedade se torna mais exigente e fica mais fácil reconhecer um quadro de deficiência intelectual.

COMO SE FAZ O DIAGNÓSTICO DE DEFICIÊNCIA MENTAL?

Um adequado diagnóstico da deficiência mental é fundamental para o manejo e para o encaminhamento para serviço de referência. O diagnóstico acurado permite não só o entendimento do quadro clínico, mas também permite o encaminhamento para a inclusão escolar, a inclusão ao mercado de trabalho, o aconselhamento familiar e aconselhamento legal.
Para o diagnóstico da deficiência intelectual é fundamental a análise neuropsicológica que permite a demonstração, de forma objetiva, das limitações intelectuais da criança, bem como a classificação objetiva da deficiência intelectual em graus:
Profundo: Retardo significativo; capacidade mínima para funcionar em áreas sensório-motoras, precisa de auxílio e supervisão constantes. Grave: Desenvolvimento motor pobre; fala mínima, em geral incapaz de beneficiar-se de treinamento em auto-ajuda; pouca ou nenhuma habilidade de comunicação.
Moderado: Pode aprender a comunicar-se, consciência social pobre; desenvolvimento motor razoável; beneficia-se com treinamento de auto-ajuda; pode ser manejado com supervisão moderada.
Leve: Pode desenvolver habilidades sociais e de comunicação; retardo mínimo em áreas sensório-motoras; com freqüência não é identificado distinguindo-se das crianças normais somente mais tarde.

A DEFICIÊNCIA MENTAL É DIAGNÓSTICO OU SINTOMA?

Essa talvez seja uma das perguntas mais importantes. Frequentemente nos deparamos com crianças com diagnóstico registrado em prontuários ou relatórios de deficiência intelectual.
Nesses casos, sempre me pergunto? Qual a causa da deficiência mental? Apesar de todas as dificuldades, sempre acreditei na necessidade de se investigar a causa e, nesse caso, acredito que a deficiência mental é um sintoma e que demos sempre buscar a causa, o diagnóstico.
As causas de deficiência mental são várias: gestacionais (exposição materna ao álcool ou outras substâncias, infecções durante a gestação, etc.); perinatais, neonatais, causas genéticas e hereditárias, condições neurometabólicas. A lista é realmente enorme e as dificuldades diagnósticas são igualmente grandes.
Para se ter uma idéia vamos considerar os seguintes quadros de deficiência mental: Quando a deficiência mental é grave, podemos encontrar o diagnóstico definitivo em mais de 60% dos casos (anormalidades cromossômicas – 30%; agressões ao cérebro em desenvolvimento – 15%; mal-formação do sistema nervoso central – 15%; síndromes genéticas – 5%; doenças neurometabólicas – 5%). Quando a deficiência mental é leve, nós não encontramos o diagnóstico definitivo em mais de 60% dos casos. Mas nada nos impede de tentar.
Entre os transtornos cromossômicos a síndrome de Down e a síndrome do X-frágil são os transtornos mais prováveis de produzir ao menos retardo mental moderado.

A DEFICIÊNCIA MENTAL E A INTERDISCIPLINARIDADE

A deficiência mental é talvez a condição que mais depende da interdisciplinaridade. Depende da investigação neuropediátrica para se tentar chegar a um diagnóstico definitivo e, com isso, tentar métodos de prevenção.
É necessário se educar a população quanto às causas, informar quanto ao risco de recorrência em uma mesma família. Mas como se calcula a chance de um transtorno mental acontecer mais de uma vez em uma mesma família sem se saber o diagnóstico? Por isso, a investigação diagnóstica é tão importante
Depende de fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos e terapeutas ocupacionais para que tenha uma reabilitação adequada, uma melhora na sua funcionalidade.
Depende de educadores, psicopedagogos para uma inclusão eficiente, para criar ambientes educacionais adequados e de respeito ao próximo.
Depende de assistentes sociais e de legisladores para lutar por políticas de saúde públicas mais eficientes e mais inclusivas.
Depende de todos nós para tirar a deficiência intelectual das sombras.

Da minha parte, postarei sempre que possível textos esclarecedores quanto à parte clínica neuropediátrica e convoco todos os interessados a publicar textos a respeito para criarmos uma rede de discussão.
Grande abraço a todos e vamos à luta!

REFERÊNCIAS:

Sadock BJ, Sadock VA. Kaplan & Sadock Manual Conciso de Psiquiatria Clínica. 2a edição. Artmed.

Swaiman KF, Ashwal S, Ferriero DM, Schor NF. Swaiman's Pediatric Neurology: Principles and Practice. 5a edição. Elservier
Fonte: http://jaimelin.com.br/saiba-mais-deficiencia-intelectual/

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