6 de mai. de 2012

O cérebro e a leitura: por Jaime Lin

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Quando pensamos em situações clínicas como a dislexia, que é uma dificuldade restrita na leitura e na escrita, muitas vezes nos deparamos com situações em que as crianças disléxicas são consideradas preguiçosas, "menos inteligentes" etc. E isso não poderia estar mais longe da verdade.

Talvez uma das coisas mais importantes que devemos reconhecer é: O quanto é difícil ler e escrever. O cérebro passou por milênios de evolução até chegarmos aos dias de hoje, conseguindo ler e escrever.

As idéias que eu escrevo agora bem como os esquemas (perdoem a qualidade dos meus desenhos) foram extraídos de pensamentos da pesquisadora Maryanne Wolf e de seu brilhante livro: Proust and the Squid: The Story and Science of the Reading Brain. 1ª edição: Harper/Perennial. Que não me canso de ler.

Talvez a primeira forma de "leitura" tenha acontecido há oito ou 10 mil anos atrás, quando nossos ancestrais aprenderam a reconhecer representações de predadores ou de outros animais. Esse reconhecimento de representações, como pegadas é feito por áreas visuais. (Figura I). Acontece que apenas reconhecer não bastava, era fundamental que as imagens reconhecidas pela área visual fossem ligadas a informações e conceitos sobre o que era visto. "Imaginem ver uma pegada na porta de casa? Será que é do meu cão de estimação? Será que é de algum predador? (Figura I). E assim, desenvolveu-se a área visual associativa. Essa talvez tenha sido a nossa primeira "leitura"

Passando essa informação a gerações futuras, nossos antepassados passaram o conhecimento de um grande repertório de símbolos. O cérebro estava, assim preparado para LER.

Milênios se passaram e as línguas mais antigas foram criadas. Línguas como o egípcio ou o chinês (de quem sou orgulhosamente descendente). Línguas essas que se baseavam no reconhecimento de milhares de símbolos (Figura II) para representar diferentes "ideias". Assim, chamamos esses símbolos de ideogramas. Coloquei o ideograma "Eu" para que o leitor possa ter uma ideia. Isso exigia do nosso cérebro um grande desenvolvimento de áreas relacionadas à memória, e isso faz sentido, imagine lembrar de 5 a 10 mil símbolos diferentes para ler um pequeno texto. Pouco eficiente não?

Assim desenvolvemos nosso cérebro para a leitura alfabética. Nosso cérebro maravilhoso criou uma forma eficiente, rápida e de compreensão fluente e que reduziu o número de símbolos para 26. Isso permitiu o desenvolvimento de novas áreas cerebrais, áreas relacionadas à organização espacial, a novas formas de pensar (FiguraIII).

O Cérebro e a Leitura


Pode ser que alterações no desenvolvimento de áreas cerebrais envolvidas na leitura, no reconhecimento de símbolos, na organização espacial estejam envolvidas na origem da dislexia? Pode ser.

O que eu tenho certeza é: Ler é uma atividade extremamente complexa e exigiu milênios de evolução para chegarmos até onde chegamos. E mais, hoje, nossos cérebros passam por milênios de evolução em menos de 7 anos (nascemos e aprendemos a ler por volta dos sete anos de idade certo?).

Acredito que podemos auxiliar nesse desenvolvimento: A partir dos seis meses de idade, quando nossas crianças aprendem a sentar, podemos ler para elas, contar histórias, mostrá-las que animais diferentes têm nomes diferentes, fazem sons diferentes (lembram das áreas visuais e áreas associativas?). Mais para a frente, podemos fazer "jogos com rimas", mostrá-las que palavras diferentes podem ter sons semelhantes. Estudos mostram que crianças cujos pais liam para elas regularmente, tiveram desempenhos melhores no aprendizado da leitura e escrita.

Finalmente, temos que ler, ler muito, dar o exemplo. Criar o hábito da leitura.

Referências:

Maryanne Wolf. Proust and the Squid: The Story and Science of the Reading Brain. 1ª edição: Harper/Perennial.


Retirado do site:http://jaimelin.com.br/saiba-mais-o-cerebro-e-a-leitura/

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