8 de mar. de 2013

Motivação para aprender na escola


Motivação para aprender na escola


Jocemara Ferreira Mognon1
Universidade São Francisco, Itatiba, Brasil


Boruchovitch, E., Bzuneck, J. A. e Guimarães, S. E. R. (2010). Motivação para aprender: aplicações no contexto educativo. Rio de Janeiro: Vozes, 254 p.
A motivação tem despertado a atenção dos profissionais envolvidos com a educação, por ser considerada como um dos principais fatores que favorecem a aprendizagem. A partir disso, Evely Boruchovitch, José Aloyseo Bzuneck e Sueli Guimarães organizaram essa obra, em que discutem a motivação para aprender sob várias perspectivas. A estrutura do livro é constituída em três momentos: na parte I são trazidas aplicações educacionais da motivação, na parte II são apresentados os enfoques em que a motivação é estudada e na parte III é apresentada a motivação relacionada às diversas áreas do conhecimento.
A parte I está subdivida em três capítulos. No primeiro José Aloyseo Bzuneck traz estratégias importantes para os professores sobre como motivar os seus alunos. Baseando-se em estudos, o autor agrupa as estratégias práticas em quatro categorias. Aponta que é preciso mostrar ao aluno o significado e a importância de se estudar tais disciplinas ou conteúdos. Dessa forma, o professor precisa captar quais os interesses dos alunos e o que lhes causa curiosidade, para que as atividades sejam propostas com características de desafios. Na realização das atividades é importante o professor oferecer feedback sobre a adequação e qualidade dos trabalhos. O autor finaliza acrescentando que a motivação na sala de aula necessita da utilização de diversas estratégias para alcançar o maior número de alunos possíveis.
No segundo capítulo o objetivo de José Aloyseo Bzuneck e Sueli Édi Rufini Guimarães é continuar oferecendo estratégias que podem ser utilizadas pelos professores, mais especificamente na promoção da autonomia, sendo essa a maneira mais aprimorada de estabelecer a motivação para aprender. Para tanto, foi utilizado o embasamento da Teoria da Autodeterminação, que atribui dois subgrupos da motivação, a intrínseca e a extrínseca. As pesquisas trazidas pelos autores apontam a motivação autônoma atrelada ao esforço, atenção, persistência na tarefa e desempenho acadêmico. No entanto, é ressaltado no capítulo o papel da escola e dos professores em utilizar-se de estratégias adequadas. Assim, é possível perceber a importância do vínculo para que o aluno se sinta encorajado a procurar diferentes maneiras de aprender.
No terceiro capítulo, Sueli Édi Rufini Guimarães, José Aloyseo Bzuneck e Evely Boruchovitch apresentam uma revisão dos instrumentos que estão sendo utilizados para avaliar a motivação para aprender no contexto escolar. Apontam que o método mais utilizado para a mensuração tem sido o uso de escalas de autorrelato, tanto em pesquisas qualitativas quanto em quantitativas. O levantamento encontrou várias escalas formuladas para todos os níveis de educação; no entanto, a maior ênfase está no ensino fundamental e no superior, ao contrário do ensino médio. Foram encontradas escalas para avaliar o estilo dos professores, o que tem sido importante para a motivação do aluno. Os autores acrescentam que os instrumentos encontrados na revisão revelam a preocupação dos pesquisadores nas análises de validade e precisão, demonstrando, assim, como a área de estudo sobre a motivação para aprender tem se desenvolvido no Brasil.
Na parte II do livro são descritas as perspectivas teóricas que compõem o construto motivação para aprender distribuídas em três capítulos. No quarto capítulo Rita da Penha Campos Zenorini e Acácia Aparecida Angeli dos Santos apresentam a Teoria de Metas de realização e os seus estilos motivacionais. As autoras fazem menção a várias pesquisas internacionais e algumas poucas nacionais em que as metas aprender e performance aparecem relacionadas a outros construtos e variáveis como o uso de estratégias de aprendizagem, desempenho acadêmico, esforço, autoeficácia, ansiedade, satisfação com a aprendizagem, dentre outros. Em síntese, as autoras destacam que as pesquisas internacionais utilizando a abordagem teórica de metas investigam principalmente o ensino médio e superior, enquanto no Brasil as pesquisas recuperadas utilizam-se de amostras exclusivamente universitárias e, muitas delas, de instrumentos não validados para a população brasileira.
No quinto capítulo, intitulado "O papel da autoeficácia e autorregulação no processo motivacional", Roberta Gurgel Azzi e Soely Aparecida Jorge Polydoro apresentam a motivação a partir da visão da Teoria Social Cognitiva, em que a motivação se dá a partir da crença da capacidade individual e exerce impacto na escolha de tarefas, no grau de motivação, na qualidade e quantidade de esforço e no desempenho dos alunos. No capítulo é descrito que quando a crença de autoeficácia para uma meta é alta, os estudantes empregam mais esforço para a realização bem-sucedida da tarefa e persistente por mais tempo diante dos entraves. As autoras finalizam apontando que existe um grande campo para ser investigado a partir dessa teoria na realidade brasileira, como a automotivação, autoeficácia e autorregulação.
Leandro Almeida e Maria Adelina Guisande apresentam no sexto capítulo a abordagem das Atribuições Causais para explicar a motivação para aprender. Os autores descrevem as contribuições de teóricos como Heider, Rotter e Weiner na definição do construto, que pode ser explicado como as inferências que o aluno faz de seus comportamentos durante uma ação. Também relatam que as atribuições causais, quando estão sendo desenvolvidas e estruturadas, na criança, sofrem influências de diversas variáveis, sejam na família, na escola e nos grupos sociais ao qual pertence. São apresentadas ainda, por meio de pesquisas, diferenças nas variáveis gênero, idade e série escolar dos alunos. Em sua conclusão, os autores reforçam o apoio essencial dos pais e professores no processo de ensino-aprendizagem e a ação conjunta destes, na mudança de atribuições externas para as internas.
Na parte III do livro são apresentados quatro capítulos. Geraldina Porto Witter escreve sobre a "Motivação e leitura", apontando a incontestável importância para o mundo de hoje. Primeiramente a autora conceitua a leitura e a sua complexidade na aquisição de competência, fluência e uso frequente, cuja motivação para leitura é essencial. São apresentadas, também, pesquisas que correlacionam a leitura e compreensão de texto, escrita, autoeficácia e desempenho acadêmico. As pesquisas apontam ainda a importância de pessoas conhecidas da criança na influência da leitura. Dessa forma, a autora ressalta que medidas devem ser tomadas para a conscientização dos pais no incentivo da leitura nos seus filhos. Essa orientação pode ser dada pelos professores, que podem relacionar as vivências domésticas com o que fazem na sala de aula, tornando, assim, a aprendizagem motivadora, porque apresenta-se mais significativa e próxima do aluno.
No oitavo capítulo, Elis Regina da Costa e Evely Boruchovitch abordam a escrita, a motivação e suas relações à luz da teoria de motivação intrínseca e extrínseca. As autoras buscam conscientizar educadores e professores sobre a necessidade de se promover, em sala de aula, a motivação para a escrita. As discussões fomentadas trazem formas para desenvolver e manter a motivação reforçando a importância do professor nesse processo de aprendizagem, o qual precisa, por meio das atividades, promover o engajamento e a motivação dos alunos, sendo importante o feedback adequado do educador. As autoras ressaltam a importância de o professor compreender a influência das condições ambientais da sala de aula, como a seleção das atividades, das expectativas e das interações das características do aluno na motivação para aprender.
Buscando a compreensão da motivação para o processo criativo, Denise de Souza Fleith e Eunice Soriano escrevem o nono capítulo. Inicialmente são descritos os vários modelos que explicam o construto criatividade, mostrando como esse fenômeno é sistêmico e que resulta de características individuais e de fatores ambientais. São discutidas as influências da motivação intrínseca, extrínseca e a relevância dos estados emocionais afetivos para a atividade criativa. Ainda, são apontadas quais ações e comportamentos dos professores podem minar e atrapalhar o estado de criar dos alunos. O capítulo se encerra considerando que a criatividade é um processo multifacetado, que não é apenas um tipo de personalidade ou de motivação que consegue explica-lá, devendo os futuros estudos incorporar diversos instrumentos, fonte de informações e múltiplos delineamentos.
No último capítulo, Evely Boruchovitch e José Aloyseo Bzuneck apresentam um panorama do que tem sido produzido sobre a motivação para aprender no Brasil. O objetivo do texto é informar aos leitores sobre os aspectos mais desenvolvidos, perspectivas futuras e problemas que precisam ser enfrentados para o progresso da área. São apresentadas várias pesquisas nas quatro perspectivas motivacionais, a saber, motivação intrínseca e extrínseca; metas de realização; atribuições causais e à autoeficácia. Os autores finalizam argumentando que houve avanços em relação à temática nos últimos anos, porém são apontadas algumas dificuldades, tais como, poucas pesquisas com os alunos do Ensino Médio, obtenção dos dados geralmente local ou regional e necessidade de se caracterizar melhor as relações entre as variáveis motivacionais.
O livro resenhado traz informações relevantes para estudantes de psicologia, pedagogia e profissionais da educação interessados um problema tão frequente nas salas de aula, que é justamente a falta de motivação. O livro traz uma robusta conceituação teórica da motivação e suas diversas perspectivas, que buscam, com isso, alcançar um número maior de fatores relacionados com o construto. Para tanto, os autores oferecem a descrição de muitas pesquisas que abordam variáveis diversas, tais como idade, gênero, escolaridade e condições socioeconômicas. Para completar, não simplesmente apontam o que precisa ser melhorado, mas, também, como promover e manter a motivação, sendo importante para ajudar os professores em sala de aula e mesmo em intervenções psicopedagógicas.


Recebido em fevereiro de 2010
Reformulado em março de 2010
Aprovado em abril de 2010


Sobre a autora:
Jocemara Ferreira Mognon é discente do curso de Psicologia da Universidade de São Francisco e bolsista de Iniciação Científica PIBIC/CNPq.


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