8 de abr. de 2012



O SANTO SUDÁRIO - O manto de Jesus Cristo




Em Turim, a Igreja Católica vela o pano que cobriu o corpo de Jesus Cristo, 
quando retirado da cruz. Nele há uma figura que seria o corpo estampado 
com o sangue do filho de Deus. Neste abril, um estudo mostrou 
a sombra de uma segunda imagem da face de um homem na 
parte de trás do lençol, de acordo com relatório publicado pelo
 Instituto de Física de Londres.


 Esta parte estava sob um pedaço de pano costurado por freiras
 em 1534, depois que ele foi danificado por fogo. Mas foi exposta
 em 2002, durante projeto de restauração, coordenado pelo professor
 Giulio Fanti, da Universidade de Pádua, na Itália. Ele diz que ter visto 
uma imagem em fotografias do manto, com "características 
como nariz, olhos, barba e bigode" claramente visíveis e algumas
 leves diferenças em relação ao rosto conhecido. Por exemplo, o nariz,
 na parte de trás, "mostra ambas as narinas, ao contrário da parte
 da frente, em que a narina direita é menos evidente".


Em 1988, cientistas de três universidades concluíram, através do 
isótopo de carbono 14, que o tecido havia sido produzido entre
 1260 e 1390, muito tempo após a data atribuída à morte de
 Jesus. O Cardeal de Turim, Anastasio Alberto Ballestrero, 
admitiu que o manto era falso.


 Mas, como escreveu Umberto Eco, no seu "Baudolino", as relíquias
 "são de origem duvidosa, mas o fiel que vai beijá-las sente a emanação 
de aromas sobrenaturais. É a fé que as faz verdadeiras, não são 
elas que fazem verdadeira a fé". Em Brasília, por exemplo, folhetos 
turísticos indicam que a cruz metálica no topo da catedral da Capital 
Federal, abençoada pelo papa Paulo VI, contém uma lasca daquela
 em que Jesus foi crucificado.


Em 1977 foi criado, nos Estados Unidos, o Shroud of Turin Research 
Project (Projeto de Pesquisa do Manto de Turim), formado por 39 
cristãos e um agnóstico: Walter C. McCrone, único microscopista
 especializado em química forense da equipe. Quando McCrone 
encontrou evidência de têmpera baseada em ocre vermelho com 
aglutinante de colágeno e afirmou que o manto era uma pintura,
 foi expulso do grupo...


Os defensores da autenticidade do pano recorrem à exatidão anatômica 
e das evidências de torturas que a figura apresenta. Mas são 
argumentos difíceis de comprovar. Por exemplo, a imagem 
do pano apresenta o cabelo, o bigode e a barba brancos, 
o que não combina com as representações de um Jesus 
morto aos 33 anos. Além do mais, a imagem do sudário
 somente seria um negativo se, deixando de lado as manchas 
de sangue,  representassem uma estátua ou um baixo relevo
 que só apresentasse uma única cor tanto para a pele como 
para o cabelo e a barba.


Outro detalhe incongruente: as imagens de sangue que aparecem 
no rosto e no corpo do sudário. Quando alguém recebe um corte
 no crânio, o sangue empapa o cabelo e um pano em contato
 com esse crânio ficará com manchas de sangue. Mas os cabelos 
no sudário estão pintados com fios de sangue bem definidos.
 As manchas de sangue seco se tornam marrons escuras com
 o tempo, mas no sudário estão vermelhas e formadas, segundo
 McCrone, por partículas de óxido de ferro (ocre vermelho) 
e cristais de cinábrio (vermelhão).


No rosto do sudário, os cabelos caem para os lados da cabeça 
em direção aos ombros, o que é incompatível com a posição
 de um corpo deitado, pois os cabelos cairiam para trás da cabeça.
 Os braços, por sua vez, estão semiflexionados, para que as mãos 
ocultem os genitais, mas os ombros são representados como se
 estivessem encostados no solo. Com isso, os braços ficam 
desproporcionalmente longos, como os de símios — foi a forma 
que o pintor encontrou para não deixar exposto o pênis.


Outra impossibilidade semelhante à das mãos sobre os genitais 
ocorre com os pés. As pernas estão retas, mas a planta dos pés
 é representada em contato com o solo. Os joelhos deveriam
 estar flexionados para permitir sua impressão.



Mas talvez a incoerência mais grave seja o aspecto pictórico
 da imagem. Uma figura envolta em um pano deixaria uma 
marca de contato deformada em relação ao modelo real. 
As orelhas apareceriam vistas de lado no pano.
 Algo semelhante aconteceria com qualquer característica facial.
 A ausência desta deformação indica que o manto não teve
 contacto com um cadáver, mas que foi pintado para que
 parecesse com as representações tradicionais de Jesus.


 Conforme afirma Hernán Toro, docente do Centro de 
Ciência Básica na Escola de Engenharia da Universidade
 Pontifícia Boliviana, autor do artigo "As anomalias
 ignoradas do 'sudário' de Turim", que embasou a 
parte analítica deste escrito, "a autenticidade do 
sudário não se sustenta ante uma simples análise 
lógica da imagem".




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