3 de abr. de 2013

Autismo - descrição clínica, diagnóstico, definições ...






Segundo a ASA (Autism Society of American), indivíduos com autismo usualmente exibem pelo menos metade das características listadas a seguir:
1. Dificuldade de relacionamento com outras crianças
2. Riso inapropriado
3. Pouco ou nenhum contato visual
4. Aparente insensibilidade à dor
5. Preferência pela solidão; modos arredios
6. Rotação de objetos
7. Inapropriada fixação em objetos
8. Perceptível hiperatividade ou extrema inatividade
9. Ausência de resposta aos métodos normais de ensino
10. Insistência em repetição, resistência à mudança de rotina
11. Não tem real medo do perigo (consciência de situações que envolvam perigo)
12. Procedimento com poses bizarras (fixar objeto ficando de cócoras; colocar-se de pé numa perna só; impedir a passagem por uma porta, somente liberando-a após tocar de uma determina maneira os alisares)
13. Ecolalia (repete palavras ou frases em lugar da linguagem normal)
14. Recusa colo ou afagos
15. Age como se estivesse surdo
16. Dificuldade em expressar necessidades - usa gesticular e apontar no lugar de palavras
17. Acessos de raiva - demonstra extrema aflição sem razão aparente
18. Irregular habilidade motora - pode não querer chutar uma bola, mas pode arrumar blocos
OBS.: É relevante salientar que nem todos os indivíduos com autismo apresentam todos estes sintomas, porém a maioria dos sintomas está presente nos primeiros anos de vida da criança. Estes variam de leve a grave e em intensidade de sintoma para sintoma. Adicionalmente, as alterações dos sintomas ocorrem em diferentes situações e são inapropriadas para sua idade.
COMPORTAMENTOS DO INDIVÍDUO COM AUTISMO
(Segundo a ASA)
USA AS PESSOAS COMO FERRAMENTAS
RESISTE A MUDANÇAS DE ROTINA
NÃO SE MISTURA COM OUTRAS CRIANÇAS
APEGO NÃO APROPRIADO A OBJETOS
NÃO MANTÉM CONTATO VISUAL
AGE COMO SE FOSSE SURDO
RESISTE AO APRENDIZADO
NÃO DEMONSTRA MEDO DE PERIGOS




RISOS E MOVIMENTOS NÃO APROPRIADOS
RESISTE AO CONTATO FÍSICO
ACENTUADA HIPERATIVIDADE FÍSICA
GIRA OBJETOS DE MANEIRA BIZARRA E PECULIAR





ÀS VEZES É AGRESSIVO E DESTRUTIVO
MODO E COMPORTAMENTO INDIFERENTE E ARREDIO










O autismo é um transtorno definido por alterações presentes antes dos três anos de idade e que se caracteriza por alterações qualitativas na comunicação, na interação social e no uso da imaginação.
DEFINIÇÃO DA AUTISM SOCIETY OF AMERICAN – ASA (1978)
Autism Society of American = Associação Americana de Autismo.
O autismo é uma inadequacidade no desenvolvimento que se manifesta de maneira grave por toda a vida. É incapacitante e aparece tipicamente nos três primeiros anos de vida. Acomete cerca de 20 entre cada 10 mil nascidos e é quatro vezes mais comum no sexo masculino do que no feminino. É encontrado em todo o mundo e em famílias de qualquer configuração racial, étnica e social. Não se conseguiu até agora provar qualquer causa psicológica no meio ambiente dessas crianças, que possa causar a doença.
Segundo a ASA, os sintomas são causados por disfunções físicas do cérebro, verificados pela anamnese ou presentes no exame ou entrevista com o indivíduo. Incluem:
1. Distúrbios no ritmo de aparecimentos de habilidades físicas, sociais e lingüísticas.
2. Reações anormais às sensações. As funções ou áreas mais afetadas são: visão, audição, tato, dor, equilíbrio, olfato, gustação e maneira de manter o corpo.
3. Fala e linguagem ausentes ou atrasadas. Certas áreas específicas do pensar, presentes ou não. Ritmo imaturo da fala, restrita compreensão de idéias. Uso de palavras sem associação com o significado.
4. Relacionamento anormal com os objetivos, eventos e pessoas. Respostas não apropriadas a adultos e crianças. Objetos e brinquedos não usados de maneira devida.
Fonte: Gauderer, E. Christian. Autismo e outros atrasos do desenvolvimento: guia prático para pais e profissionais. Rio de Janeiro: Revinter; 1997. pg 3.
DEFINIÇÃO DO DSM-IV-TR (2002)
O Transtorno Autista consiste na presença de um desenvolvimento comprometido ou acentuadamente anormal da interação social e da comunicação e um repertório muito restrito de atividades e interesses. As manifestações do transtorno variam imensamente, dependendo do nível de desenvolvimento e da idade cronológica do indivíduo.
DEFINIÇÃO DA CID-10 (2000)
Autismo infantil: Transtorno global do desenvolvimento caracterizado por: a) um desenvolvimento anormal ou alterado, manifestado antes da idade de três anos, e b) apresentando uma perturbação característica do funcionamento em cada um dos três domínios seguintes: interações sociais, comunicação, comportamento focalizado e repetitivo. Além disso, o transtorno se acompanha comumente de numerosas outras manifestações inespecíficas, por exemplo: fobias, perturbações de sono ou da alimentação, crises de birra ou agressividade (auto-agressividade).


Os sistemas de classificação mais utilizados para realizar o diagnóstico são:
 Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) – DSM-IV, da Associação Americana de Psiquiatria (APA). Em 2002, o DSM-IV foi revisado (DSM-IV-TR), e a categoria “transtornos invasivos do desenvolvimento” passou a ser intitulada “transtornos globais do desenvolvimento”.
  QUADRO 1 – Critérios Diagnósticos para 299.00 Transtorno Autista (DSM-IV-TR).
A. Um total de seis (ou mais) itens de (1), (2) e (3), com pelo menos dois de (1), um de (2) e um de (3):

(1) Comprometimento qualitativo da interação social, manifestado por pelo menos dois dos seguintes aspectos:

(a) comprometimento acentuado no uso de múltiplos comportamentos não-verbais, tais como contato visual direto, expressão facial, posturas corporais e gestos para regular a interação social
(b) fracasso em desenvolver relacionamentos com seus pares apropriados ao nível de desenvolvimento
(c) ausência de tentativas espontâneas de compartilhar prazer, interesses ou realizações com outras pessoas (por exemplo, não mostrar, trazer ou apontar objetos de interesse)
(d) ausência de reciprocidade social ou emocional

B.
 Atrasos ou funcionamento anormal em pelo menos uma das seguintes áreas, com início antes dos 3 anos de idade: (1) interação social, (2) linguagem para fins de comunicação social ou (3) jogos imaginativos ou simbólicos.

C. A perturbação não é melhor explicada por Transtorno de Rett ou Transtorno Desintegrativo da Infância.
 Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde(International Statistical Classification of Diseases and Related Health Problems) – CID-10, da Organização Mundial de Saúde (OMS).
  QUADRO 2 – Critérios Diagnósticos para F84.0 Autismo Infantil (CID-10).
Transtorno global do desenvolvimento caracterizado por: 

a)
 um desenvolvimento anormal ou alterado, manifestado antes da idade de três anos

b) presença de uma perturbação característica do funcionamento em cada um dos três domínios seguintes: interação social, comunicação, comportamento focalizado e repetitivo


O transtorno se acompanha comumente de numerosas outras manifestações inespecíficas, por exemplo, fobias, perturbações de sono ou da alimentação, crises de birra ou agressividade.



O termo autismo vem do grego “autós” que significa “de si mesmo”.
Em 1906, Plouller introduziu o termo autista na literatura psiquiátrica.
Mas foi Bleuler, em 1911, o primeiro a difundir o termo autismo para referir-se ao quadro de esquizofrenia, que consiste na limitação das relações humanas e com o mundo externo.

Em 1943, o psiquiatra americano Leo Kanner, que trabalhava em Baltimore, nos Estados Unidos, descreveu um grupo de onze casos clínicos de crianças em sua publicação intitulada “Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo” (Autistic Disturbances of Affective Contact).
As crianças investigadas por Kanner apresentavam inabilidade para se relacionarem com outras pessoas e situações desde o início da vida (extremo isolamento), falha no uso da linguagem para comunicação e desejo obsessivo ansioso para a manutenção da mesmice.
Segundo Kanner, o autismo era causado por pais altamente intelectualizados, pessoas emocionalmente frias e com pouco interesse nas relações humanas da criança.
Em 1944, o pediatra austríaco Hans Asperger, em Viena, descreveu crianças que tinham dificuldades de integrar-se socialmente em grupos, denominando esta condição de “Psicopatia Autística” para transmitir a natureza estável do transtorno. Estas crianças exibiam um prejuízo social marcado, assemelhavam-se com as descritas por Kanner, porém tinham linguagem bem preservada e pareciam mais inteligentes. Entretanto, Asperger acreditava que elas eram diferentes das crianças com autismo na medida em que não eram tão perturbadas, demonstravam capacidades especiais, desenvolviam fala altamente gramatical em uma idade precoce, não apresentavam sintomas antes do terceiro ano de vida e tinham um bom prognóstico.
A publicação de Kanner ficou conhecida, enquanto que o artigo de Asperger, escrito em alemão, só foi transcrito para o inglês por Lorna Wing, em 1981.
O transtorno de Asperger se diferencia do autismo essencialmente pelo fato de que não se acompanha de retardo ou deficiência de linguagem ou do desenvolvimento cognitivo.
A diferença fundamental entre um indivíduo com autismo de alto funcionamento e um indivíduo com transtorno de Asperger é que o com autismo possui QI executivo maior que o verbal e atraso na aquisição da linguagem. Na prática clínica, a distinção fará pouca diferença, porque o tratamento é basicamente o mesmo.
É relevante salientar que algumas das especulações da publicação original de Kanner, como a frieza afetiva dos familiares (particularmente a da mãe), de a inteligência das crianças ser normal e de não haver presença de co-morbidade, com o tempo, mostraram-se incorretas.
Com a evolução das pesquisas científicas, concluiu-se que o autismo não é um distúrbio do contato afetivo, mas sim um distúrbio do desenvolvimento.
Em 1976, Lorna Wing relatou que os indivíduos com autismo apresentam déficits específicos em três áreas: imaginação, socialização e comunicação, o que ficou conhecido como “Tríade de Wing”.


A taxa média de prevalência do transtorno autista em estudos epidemiológicos é de 15 casos por 10.000 indivíduos, com relatos de taxas variando de 2 a 20 casos por 10.000 indivíduos.
Ainda não está claro se as taxas mais altas relatadas refletem diferenças de método dos estudos ou um aumento da freqüência do transtorno.
No Brasil, ainda não se dispõe de estatísticas oficiais.
Quanto ao gênero, observa-se uma prevalência do autismo no sexo masculino, havendo uma estimativa de que ele acomete de três a quatro meninos para cada menina.

Os indivíduos do sexo feminino tendem a estar mais gravemente afetados em relação ao sexo masculino.
Em relação às variáveis sociodemográficas, o autismo apresenta a mesma prevalência em qualquer grupo social, cultural e racial da população.


A etiologia do autismo ainda não foi definida.
Não existe uma etiologia básica fundamental para todos os casos de autismo.
Estudos demonstram, indiscutivelmente, que fatores biológicos estão implicados na etiologia do transtorno autista, embora não tenha sido ainda identificado um marcador biológico específico.
Atualmente, sabe-se que o autismo não pode ser causado por fatores emocionais e/ ou psicológicos.
Estudos sugerem que não há um dano físico no Sistema Nervoso Central que desempenhe um papel primário na etiologia do autismo.
Os fatores genéticos aparecem substancialmente na etiologia do autismo.
Diversas linhas de investigação sugerem que determinantes ambientais também desempenham um papel na gênese do autismo.
As evidências apontam para a multicausalidade.
Descobertas recentes apontam a possibilidade de que o autismo possa ser causado por uma interação gene-ambiente.


Os estudos genéticos indicam um elevado risco de recorrência do transtorno autismo na mesma família de 2% a 13,8%, o qual chega a ser 200 vezes superior ao risco da população em geral.
De acordo com estudos com famílias, o risco de autismo é maior entre os irmãos de indivíduos com o transtorno, dos quais 2 a 5% também apresentam a condição. Este risco é 50 a 100 vezes maior ao da população em geral.
O risco de que estes irmãos tenham filhos com autismo é desconhecido, mas parece lógico que esta probabilidade também seja maior a da população em geral.
Investigações científicas demonstram haver risco de várias alterações relacionadas ao desenvolvimento entre os familiares dos indivíduos com autismo, principalmente doenças de origem psiquiátrica, neurológica e genética, entre elas: transtornos relacionados a substâncias, transtornos do humor (afetivos), transtornos de ansiedade, transtornos de personalidade, transtornos de conduta, transtornos da comunicação, transtornos de aprendizagem, esquizofrenia, retardo mental e epilepsia.

Períodos de regressão podem ser observados no desenvolvimento normal, porém eles não são tão graves nem tão prolongados quanto no transtorno autista, que deve ser diferenciado de outros transtornos globais do desenvolvimento.
Transtorno de Rett
Transtorno Desintegrativo da Infância
Transtorno de Asperger
Esquizofrenia com início na Infância
Mutismo Seletivo
Transtorno da Linguagem Expressiva
Transtorno Misto da Linguagem Receptivo-Expressiva
Transtorno de Movimentos Estereotipados
Retardo Mental



A gravidade do autismo oscila bastante, porque as causas, não sendo as mesmas, podem produzir significativas diferenças individuais no quadro clínico. Desta forma, o tratamento e o prognóstico variam de caso a caso.
Os indivíduos com autismo têm uma expectativa de longevidade normal.
O transtorno autista é permanente, até o presente momento, não tem cura.
O diagnóstico precoce do autismo permite a indicação antecipada de tratamento.
Um tratamento adequado é baseado na consideração das co-morbidades para a realização de atendimento apropriado em função das características particulares do indivíduo.

A terapêutica pressupõe uma equipe multi- e interdisciplinar – tratamento médico (pediatria, neurologia, psiquiatria e odontologia) e tratamento não-médico (psicologia, fonoaudiologia, pedagogia, terapia ocupacional, fisioterapia e orientação familiar), profissionalizante e inclusão social, uma vez que a intervenção apropriada resulta em considerável melhora no prognóstico.
A base da terapêutica presume o envolvimento da família.
A farmacoterapia continua sendo componente importante em um programa de tratamento, porém nem todos indivíduos necessitarão utilizar medicamento.
Não existe medicação e nem tratamento específicos para o transtorno autista.
O sucesso do tratamento depende exclusivamente do empenho e qualificação dos profissionais que se dedicam ao atendimento destes indivíduos.
A demora no processo de diagnóstico e aceitação é prejudicial ao tratamento, uma vez que a identificação precoce deste transtorno global do desenvolvimento permite um encaminhamento adequado e influencia significativamente na evolução da criança.
Os atendimentos precoces e intensivos podem fazer uma diferença importante no prognóstico do autismo.
O quadro de autismo não é estático, alguns sintomas modificam-se, outros podem amenizar-se e vir a desaparecer, porém outras características poderão surgir com a evolução do indivíduo. Portanto se aconselham avaliações sistemáticas e periódicas.
É fundamental o investimento no SER HUMANO com autismo, toda a intervenção produzirá benefícios significativos e duradouros.
Nunca deixe de acreditar no potencial do indivíduo com autismo.



American Psychiatric Association. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. DSM-IV-TR. Porto Alegre: Artmed; 2002.

Assumpção Júnior, Francisco Baptista. Psiquiatria da infância e da adolescência. São Paulo: Santos; 1994.

Assumpção Júnior, Francisco Baptista. Transtornos invasivos do desenvolvimento infantil. São Paulo: Lemos Editorial; 1997.

Diament, Aron & Cypel, Saul. Neurologia infantil. São Paulo: Atheneu; 1996.

Friedrich, Eliane Sgária. De mãos dadas com você. Sapiranga: Pearis; 2000.

Gauderer, E. Christian. Autismo. São Paulo: Atheneu; 1993.

Gauderer, E. Christian. Autismo e outros atrasos do desenvolvimento: guia prático para pais e profissionais. Rio de Janeiro: Revinter; 1997.

Gauderer, E. Christian. Crianças, adolescentes e nós: guia prático para pais, adolescentes e profissionais. Rio de Janeiro: Revinter; 1998.

Kaplan, Harold I. & Sadock, Benjamin J. Tratado de psiquiatria. Porto Alegre: Artmed; 1999.

Kaplan, Harold I.; Sadock, Benjamin J. & Grebb, Jack A. Compêndio de psiquiatria: ciências do comportamento e psiquiatria clínica. Porto Alegre: Artes Médicas; 1997.

Lewis, Melvin. Tratado de psiquiatria da infância e adolescência. Porto Alegre: Artes Médicas; 1995.

Missaglia, Vivian. Fatores de risco teratogênicos na gênese do autismo [dissertação de mestrado]. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2003.

Organização Mundial de Saúde. Classificação estatística internacional de doenças e problemas relacionados à saúde. CID-10. São Paulo: EDUSP; 2000.

Schwartzman, José Salomão, Assumpção Júnior, Francisco Baptista & Colaboradores. Autismo infantil. São Paulo: Memnon; 1995.




Fonte de informações: http://www.autismo.com.br/

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