O cérebro e a leitura: por Jaime Lin
![Saiba Mais: A neuropediatria e a prevenção de acidentes](http://jaimelin.com.br/imagens/saibamais/o-cerebro-e-a-leitura.jpg)
Quando pensamos em situações
clínicas como a dislexia, que é uma dificuldade restrita na leitura e na
escrita, muitas vezes nos deparamos com situações em que as crianças
disléxicas são consideradas preguiçosas, "menos inteligentes" etc. E
isso não poderia estar mais longe da verdade.
Talvez uma das coisas mais importantes que devemos
reconhecer é: O quanto é difícil ler e escrever. O cérebro passou por
milênios de evolução até chegarmos aos dias de hoje, conseguindo ler e
escrever.
As idéias que eu escrevo agora bem como os esquemas
(perdoem a qualidade dos meus desenhos) foram extraídos de pensamentos
da pesquisadora Maryanne Wolf e de seu brilhante livro: Proust and the
Squid: The Story and Science of the Reading Brain. 1ª edição:
Harper/Perennial. Que não me canso de ler.
Talvez a primeira forma de "leitura" tenha
acontecido há oito ou 10 mil anos atrás, quando nossos ancestrais
aprenderam a reconhecer representações de predadores ou de outros
animais. Esse reconhecimento de representações, como pegadas é feito por
áreas visuais. (Figura I). Acontece que apenas reconhecer não bastava,
era fundamental que as imagens reconhecidas pela área visual fossem
ligadas a informações e conceitos sobre o que era visto. "Imaginem ver
uma pegada na porta de casa? Será que é do meu cão de estimação? Será
que é de algum predador? (Figura I). E assim, desenvolveu-se a área
visual associativa. Essa talvez tenha sido a nossa primeira "leitura"
Passando essa informação a gerações futuras, nossos
antepassados passaram o conhecimento de um grande repertório de
símbolos. O cérebro estava, assim preparado para LER.
Milênios se passaram e as línguas mais antigas foram
criadas. Línguas como o egípcio ou o chinês (de quem sou orgulhosamente
descendente). Línguas essas que se baseavam no reconhecimento de
milhares de símbolos (Figura II) para representar diferentes "ideias".
Assim, chamamos esses símbolos de ideogramas. Coloquei o ideograma "Eu"
para que o leitor possa ter uma ideia. Isso exigia do nosso cérebro um
grande desenvolvimento de áreas relacionadas à memória, e isso faz
sentido, imagine lembrar de 5 a 10 mil símbolos diferentes para ler um
pequeno texto. Pouco eficiente não?
Assim desenvolvemos nosso cérebro para a leitura
alfabética. Nosso cérebro maravilhoso criou uma forma eficiente, rápida e
de compreensão fluente e que reduziu o número de símbolos para 26. Isso
permitiu o desenvolvimento de novas áreas cerebrais, áreas relacionadas
à organização espacial, a novas formas de pensar (FiguraIII).
![O Cérebro e a Leitura](http://jaimelin.com.br/imagens/saibamais/o-cerebro-e-a-leitura_02.jpg)
Pode ser que alterações no desenvolvimento de áreas
cerebrais envolvidas na leitura, no reconhecimento de símbolos, na
organização espacial estejam envolvidas na origem da dislexia? Pode ser.
O que eu tenho certeza é: Ler é uma atividade
extremamente complexa e exigiu milênios de evolução para chegarmos até
onde chegamos. E mais, hoje, nossos cérebros passam por milênios de
evolução em menos de 7 anos (nascemos e aprendemos a ler por volta dos
sete anos de idade certo?).
Acredito que podemos auxiliar nesse desenvolvimento:
A partir dos seis meses de idade, quando nossas crianças aprendem a
sentar, podemos ler para elas, contar histórias, mostrá-las que animais
diferentes têm nomes diferentes, fazem sons diferentes (lembram das
áreas visuais e áreas associativas?). Mais para a frente, podemos fazer
"jogos com rimas", mostrá-las que palavras diferentes podem ter sons
semelhantes. Estudos mostram que crianças cujos pais liam para elas
regularmente, tiveram desempenhos melhores no aprendizado da leitura e
escrita.
Finalmente, temos que ler, ler muito, dar o exemplo. Criar o hábito da leitura.
Referências:
Maryanne Wolf. Proust and the Squid: The Story and Science of the Reading Brain. 1ª edição: Harper/Perennial.
Retirado do site:http://jaimelin.com.br/saiba-mais-o-cerebro-e-a-leitura/
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